segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

O Homem-Aranha (1ª série) nº 146


Por Valdemar Morais


(Fonte: Acervo Pessoal)


A força da imaginação não tem limites. Nem mesmo para o controle ferrenho dos editores de histórias em quadrinhos. Por muitos anos, sempre que tiveram ideias interessantes, mas editorialmente comprometedoras para os personagens- por exemplo, E se Lois Lane engravidasse do Superman? ou E se Superman e Batman fossem irmãos?-, os escritores, tanto na DC Comics como na Marvel Comics, exploraram o que se convencionou como “história imaginária”, na qual a aventura é publicada, mas torna-se apócrifa, ou seja, não é considerada na cronologia do personagem.






Em fevereiro de 1977, a Marvel decidiu lucrar com esse tipo de exercício imaginativo e lançou a revista bimestral What If?, que trazia versões alternativas de eventos da editora, cuja conclusão quase sempre era pessimista, justificando a razão pela qual as coisas tinham transcorrido de outra maneira no “universo tradicional”.


A série fez sucesso e durou até 1984, teve uma segunda série (1989-1998) e alguns especiais nos anos 2000. No Brasil, a série estreou pela Editora Abril, que consagrou o título O que aconteceria se...? em 1981, com a trama que confabulava sobre as repercussões no Universo Marvel caso o Capitão América não tivesse sido congelado no fim da Segunda Guerra Mundial.

Justamente no segundo volume de What If?, mais precisamente na sua quarta edição que foi lançada a história trazida a você por Quadrinhos Clássicos, especialmente pela sua curiosa trama.



O famoso uniforme negro em sua
estreia em
Secret Wars nº 8 (1984)
Arte de Mike Zeck.
(Fonte: Spiderfan)

Em O que aconteceria se o uniforme alienígena tivesse se apossado do Aranha?, o escritor Danny Fingeroth resgata o megavento Guerras Secretas, no qual o Homem-Aranha, ao ter seu uniforme completamente destruído nas batalhas do distante planeta de Beyonder, confecciona uma roupa escura a partir de um material alienígena. Algum tempo depois, sentindo-se cada vez mais estafado, o herói descobre, com a ajuda de Reed Richards – o Sr. Fantástico do Quarteto Fantástico-, que o traje é um simbionte que se alimenta de sua adrenalina. Depois de atordoar o organismo - com uma arma sônica de Richards, Aranha consegue se livrar da criatura com o badalar dos sinos de uma igreja. Posteriormente, ao se unir ao jornalista fracassado Eddie Brock, o simbionte se tornaria o vilão Venom, uma das maiores pedras no sapato do Homem-Aranha.







Na aventura imaginária, o Aranha não consegue se livrar do simbionte, pois além de a arma sônica do Sr. Fantástico falhar e até a magia do Dr. Estranho não surtir efeito, a criatura se mostra mais esperta e chega a exaurir quase totalmente as forças do herói, reduzindo o atlético Peter Parker a um frágil idoso. Em sua sanha louca pela sobrevivência, o simbionte arrasta pelo caminho heróis como Hulk, Quarteto Fantástico, Vingadores e até mesmo o flerte do Aranha, a Gata Negra, que para vingar o homem que ama, terá de fazer sociedade com gente nada recomendável...



Duplo momento dramático: o simbionte domina
o Hulk e deixa para trás um Peter Parker moribundo.
Arte de Mark Bagley.

(Fonte: Symbiote)

Um dos momentos mais tocantes dessa HQ é quando Peter, já transformado pela voracidade do simbionte, resolve visitar a Tia May, que obviamente não o reconhece e lhe confessa a agonia sobre o desaparecimento de seu querido sobrinho. Ele – que se apresenta como Harrison, um colega do Clarim Diário- nem tenta esclarecer as coisas e se resume a enfatizar o enorme carinho que Peter sempre nutriu por ela. De coração dilacerado, o outrora Homem-Aranha vai embora.

Enquanto a isso, a situação só piora, com o simbionte passando por hospedeiros cada vez mais poderosos, o que obriga a formação de uma colossal coalizão de heróis que se lançam para detê-lo na conclusão.


O desfecho da trama não chega a ser apoteótico, mas se mostra no mínimo engenhoso. E, como não poderia fugir à regra, a última página deixa um saborzinho meio agridoce, potencializado pelo tom sempre tétrico dos discursos do Vigia.

Trama curta e de leitura extremamente prazerosa, O que aconteceria se o uniforme alienígena tivesse se apossado do Aranha? conquistou a 48ª posição como uma das 100 Melhores Histórias Fechadas Desde Que Você Nasceu, um concurso produzido pela extinta revista Wizard. Esse conto despretensioso foi ilustrado por Mark Bagley, quadrinista elogiado e mais do que habituado a desenhar o Homem-Aranha- é detentor do recorde de mais longeva parceria dos quadrinhos, pelas 111 edições de Ultimate Spider-Man com o escritor Brian Michael Bendis. Por aqui, a HQ saiu uma única vez pela Editora Abril, num número da revista regular do Homem-Aranha facilmente encontrável em sebos.



O HOMEM-ARANHA (1º SÉRIE) Nº 146
História: O que aconteceria se o uniforme alienígena tivesse se apossado do Aranha?
Ano de Lançamento: 1995.
Editora: Abril Jovem/Marvel Comics.
Roteiro: Danny Fingeroth.
Desenhos: Mark Bagley.
Arte-final: Keith Williams.
Publicada originalmente em: What If? nº 4 (1989).
Personagens: Homem-Aranha.
22 páginas.



Fonte


Nenhum comentário:

Postar um comentário