Por Valdemar Morais
Em junho de 2012, a organização One Million Moms (Um Milhão de Mães) promoveu um boicote às editoras Marvel e DC Comics, por retratarem relacionamentos homossexuais em suas revistas. Como publicado em matéria da revista Mundo dos Super-Heróis nº 34, em 06 de junho, a segunda edição da revista Earth 2 da DC trazia Alan Scott, o Lanterna Verde original, criado em 1940, assumindo sua homossexualidade na nova cronologia da editora, Os Novos 52. Uma notícia que gerou repercussão em diversos meios de comunicação, causando inclusive errôneas e vergonhosas reportagens. Duas semanas depois, em evento já muito aguardado, a Marvel publicou Astonishing X-Men nº 51, estampando na capa o casamento do herói mutante Estrela Polar e seu parceiro Kyle.
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O casamento de Estrela Polar e Kyle já era aguardado... (Fonte: Elite Comics) |
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...já a revelação de Alan Scott pegou muita gente de surpresa (Fonte: O Idiota Feliz) |
As mães do referido grupo alegavam que o conteúdo dessas publicações poderia influenciar na orientação sexual de seus filhos e tentaram convencer o público a não comprar as revistas. Resultado? Uma enxurrada de comentários apoiando a iniciativa das editoras que desembocou na saída do ar da própria página do One Million Moms no Facebook.
Apesar dessa repercussão, personagens homossexuais nos quadrinhos não são propriamente uma novidade. Nos anos 1920, quadrinhos franco-belgas já traziam a temática nas entrelinhas, que o diga Tintim, de Hergé, cuja sexualidade é motivo de especulações até hoje, em função da quase inexistência de personagens femininos em seus 24 álbuns.
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Zetsuai 1989 é um exemplo de mangá Yaoi (Fonte: Manga Park) |
No Japão, os mangás do gênero Yaoi e Yuri desde os anos 1970 trazem histórias de variados temas, nas quais homens ou mulheres se relacionam com pessoas do mesmo sexo, embora não se declarem gays. Na mesma época, no Brasil, Henfil (com Fradim) e Henrique Magalhães (com a tira Maria) provocavam a ditadura militar com seus heróis homoafetivos.
A partir de 1980, Nazario Luque e Ralf König, quadrinistas assumidamente gays, movimentaram a HQ underground na Espanha e na Alemanha, respectivamente. E nos Estados Unidos, desde a vilã Sanjak de Terry e Os Piratas até o casal de super-heróis Apolo e Meia-Noite, uma variedade de figuras (veja abaixo), positiva ou negativamente, marcaram a história do movimento LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros) nas HQs.
Apesar disso, a polêmica permanece: é cabível apresentar personagens homossexuais nos quadrinhos? Trata-se de um meio válido de promover o debate ou mero marketing? Para o ilustrador Eduardo Menezes, de 28 anos, o tema é aberto a discussão em qualquer área e com as HQs não seria diferente. “Acho que isso abre discussões saudáveis e esclarecimentos sobre alguns temas tabus pra sociedade e os quadrinhos sempre foram de alguma forma um veículo pra abordagem de temas polêmicos”, opinou.
O estudante e leitor Bruno Duarte, 20, também apoia essas iniciativas, mas critica a exploração mercadológica sobre elas: “O errado na inclusão de homossexualidade nos quadrinhos é a balbúrdia com que tratam o assunto, e a intenção que as editoras têm em querer promover suas vendas somente por causa disso. Uma HQ é boa quando tem uma história boa, com homossexuais atuando nela ou não.”, argumentou.
No ponto de vista do advogado e fã Zorbba Igreja, 32, a contribuição das HQs para o Movimento Gay ao retratar personagens homoafetivos no âmago de suas tramas tem caráter digno. “A existência de heróis homossexuais pressupõe a existência de um grupo de leitores homossexuais que gostariam de se ver representados em um universo fantástico”, afirma Igreja, que emenda: “Pensar que o tema acima é intocável em qualquer âmbito é retrocesso dos direitos civis e um passo ao retorno à idade das sombras. As HQs nesse ponto deram um passo importante para a construção de um discurso igualitário onde ninguém deve temer por sua cor, credo, gênero ou orientação sexual”.
Protagonizando ou apenas no background das histórias, parece mesmo que no mundo das HQs, os super-heróis gays chegaram para valer, seja para o deleite dos leitores ou das editoras que os publicam.
FORA DO ARMÁRIO- Conheça alguns personagens gays das HQs
Hulkling e Wiccano no traço de
Jim Cheung
(Fonte: OC Weekly) |
O Colossus Ultimate demorou um
pouco, mas assumiu sua orientação.
(Fonte: Fanpop)
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Anarcoma estreou na revista Rampa, em 1978, mas só 1983 teve seu
álbum próprio
(Fonte: Nazario Luque) |
Caio foi o primeiro personagem possivelmente gay numa HQ
brasileira de grande circulação
(Fonte: Folha Online) |
Estrela Polar e sua equipe, a Tropa Alfa, estrearam como adversários
dos X-Men
(Fonte: New Comics Day) |
Sina, à esquerda, e Mística fizeram parte da
segunda Irmandade de Mutantes, vilões dos X-Men (Fonte: Journey Into Awesome) |
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A nova Batwoman estreouna edição 10 da minissérie 52
(Fonte: Omelete)
Fonte
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