Por Valdemar Morais
O processo é
simples: primeiro, faz-se o download do programa correspondente (cbr ou cbz). Em seguida, se
acha um site que disponibiliza os arquivos. Por fim, com um clique e,
dependendo da qualidade da internet, em alguns segundos se tem a HQ desejada
para leitura no computador, seja uma edição lançada no mês passado nos Estados
Unidos, seja uma edição esgotadíssima e rara como os volumes de Os Companheiros do Crepúsculo, de François
Bourgeon.
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Com os scans, edições clássicas e raras estão à distância de dois cliques (Fonte: Print Screen DC Marvel) |
Disseminados
pela vontade de fãs, que traduzem edições estrangeiras digitalizadas e/ou
escaneiam suas próprias revistas e
postam na internet, os scans surgiram em meados dos anos 2000 e já naquela época
causavam discussões acaloradas entre todos os elementos da indústria das HQs:
criadores, editoras, críticos e leitores.
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A genial fase de Grant Morrison à frente da Patrulha do Destino (1989-1993): ignorada pelas editoras nacionais, só é conhecida no Brasil pelos scans. (Fonte: El Desván de Cthulhu) |
É fácil
entender a razão: por um lado, os scans tem suas vantagens, quando proporcionam
ao leitor um meio de adquirir gratuitamente sua HQ, de escolher ler somente a
história que lhe interessa (poupando-lhe dos famigerados mixes), de poder lê-la
com uma defasagem bem curta em relação à publicação original, de ter acesso a
materiais interessantes, mas ignorados pelas editoras nacionais, e até mesmo um
espaço bem mais compacto na coleção do que se fossem HQs impressas.
Por outro
lado, o acesso gratuito e clandestino – pois não há qualquer pagamento para
licenciantes- afeta diretamente o mercado, afinal, é das vendas das publicações
que autores e editores sustentam suas famílias. Até mesmo o mercado de revistas
usadas, os famosos sebos, sofre com essa prática, pois perde renda quando edições
antigas também são disponibilizadas na internet. No fim, a própria indústria
das HQs pode entrar em colapso.
Sidney Gusman,
editor do site Universo HQ, é veementemente contra os scans, que chega a
classificar como pirataria. “E os webmasters e colaboradores dessas
páginas sabem disso. Tanto que adotam pseudônimos, no lugar de seus nomes reais”, afirma Gusman. O jornalista, no entanto, não culpa apenas os fundadores desses
sites pela proliferação dos scans: as editoras também tem parte nisso.
“Os scans de
quadrinhos na internet são algo irreversível. Só tendem a crescer. Até porque,
no Brasil, [...] as editoras e empresas licenciantes nunca moveram uma palha
para coibi-los. Falaram em tentar impedir judicialmente que suas HQs fossem
expostas nesses sites, mas nunca saíram do discurso”, assinala Gusman em seu
artigo HQs na rede: divulgação ou pirataria?
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Sidney Gusman e suas raras Os Companheiros do Crepúsculo: pra ele, nada substitui a HQ impressa. (Fonte: Anima Academia de Arte) |
Já
Manoel de Souza, editor da revista Mundo dos Super-Heróis, não tem tanta certeza de que scans são pirataria, mas
concorda que a prática, cometida de forma indiscriminada, é lesiva. “Ler scans
e deixar de comprar a obra original na banca ou livraria é sacanagem, pois o
trabalho de editores sérios deve ser recompensado”, afirma Manoel.
Assim
como Sidney Gusman, ele vê como algo positivo a possibilidade de os scans
divulgarem edições raras, mas ressalta que isso deve ser um chamariz à procurar
por essas publicações impressas. Para ele, é preferível a pilha de gibis
empoeirados do que a tela do computador. “A mudança de páginas é meio chata, o
impacto das páginas duplas se perde, não há a agradável textura do papel e o
calor do notebook no colo me enche o saco”, sentenciou Souza em seu texto Problemas Modernos, publicado na edição 14
da Mundo.
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Capa de All-New X-Men nº 5, que saiu nesse janeiro nos EUA. Por scan, os brasileiros podem ler a edição traduzida em um mês. Pela Panini, editora licenciada, em pelo menos seis meses. (Fonte: Comics Nexus) |
Sob outro
ponto de vista, o jornalista e advogado Jorge André Paulino Silva, 24 anos, se
declara à favor do consumo de scans. “Em que pese a alegada desvalorização dos
artistas envolvidos com o processo, acredito que é uma forma de socializar os
conteúdos das revistas. E o fã de verdade compra do mesmo jeito”, analisa
Jorge, que lê quadrinhos desde os oito anos de idade.
O designer
gráfico Lucas Lins prefere o equilíbrio do meio termo: “As editoras devem
lançar quadrinhos mais baratos em plataformas diferenciadas - como já é feito
para tablets- e também o leitor deve valorizar essa barateamento e tratar de
comprar em vez de piratear”.
Pelo visto, a
questão ainda deve render muitos debates pelos próximos anos. E você, é contra
ou favor? Deixe sua opinião nos comentários!
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