segunda-feira, 18 de março de 2013

De Volta Para o Passado!


Por Valdemar Morais



Conhecer as histórias em quadrinhos vai muito além de ficar por dentro dos principais personagens, artistas ou as tramas mais emblemáticas. Passa também por ter uma noção de como foi a evolução dessa arte, seus sucessos e fracassos, ápices e quedas. Obviamente que abranger mais de 100 anos de História das histórias em quadrinhos não é das tarefas mais simples, mas, a exemplo do chiste sobre Jack, O Estripador: vamos por partes.


Na trajetória do gênero super-herói, foram convencionados períodos históricos conhecidos como “eras”. Para abordar mais detalhadamente esse mais de um século de HQs, indo muito além dos heróis uniformizados, o Quadrante9 vai se dar o direito de expandir esses conceitos e estabelecer suas próprias “idades históricas”. Assim como na própria História, os intervalos de tempo são apenas para ajudar na didática, ou seja, não quer dizer que uma era tenha terminado exatamente onde acabou a outra. Paulatinamente, cada era será esmiuçada, trazendo episódios pitorescos, tristes, emocionantes e que certamente vão mostrar por que as histórias em quadrinhos são dignas de ser chamadas de arte.


Mas antes, é claro, é preciso conhecer que “eras” ou “idades” são essas. Ligue o seu DeLorean, marque a data desejada e embarque nessa viagem pelo tempo!



PRÉ-HISTÓRIA

Período: Das cavernas até 1896.
A Coluna de Trajano,
em Roma, foi terminada em 113.

(Fonte: Magerson Flickr)

A Pré-História dos quadrinhos se inicia com a própria civilização humana, que na busca de estabelecer narrativas e garantir seu acesso às gerações futuras, cunhou o método de unir imagens em sequência. De pinturas rupestres a painéis em alto e/ou baixo relevo em Roma e na Mesopotâmia, dos afrescos japoneses aos vitrais da Europa medieval, dos livros infantis ricamente ilustrados da Alemanha às charges políticas do Brasil imperial. O marco derradeiro dessa era é o surgimento da tira The Yellow Kid, nos Estados Unidos, sendo o primeiro exemplar de arte sequencial que utilizava balões para conter as falas dos personagens.



ERA DE PLATINA


Período: 1896-1938.


O Agente Secreto X-9 foi
criado por Dashiell Hammett e
Alex Raymond em 1934.

(Fonte: Davy Crockett's Almanack)

Nesse período, as tiras de jornal evoluem para revistas periódicas e álbuns, começando na maior parte das vezes com temáticas humorísticas para depois abranger outros gêneros. Surgem os primeiros exemplares da união – com características modernas- de texto e imagem na China (manhuas), Tchecoslováquia, França, Bélgica e Alemanha. Com a estreia de O Tico-Tico (1905), uma das primeiras revistas em quadrinhos que não era uma simples compilação de tiras de jornal, o Brasil foi precursor em relação a vários países. 






No período, Popeye (1929) estreou nas tiras antes de ir para o cinema, o Príncipe Valente (1934) explorou aventuras na época medieval, Flash Gordon (1934) viajava pelo universo e o Fantasma (1936) foi o primeiro combatente do crime a usar uma máscara. O fim dessa era foi o surgimento do Superman em Action Comics nº 1, e, por conseguinte, a gênese do gênero super-herói.



ERA DE OURO

Período: 1938-1955.
Edição número 7 de
World's Finest (1942), série que
juntava Batman e Superman

(Fonte: Aparo Fan)

Depois do sucesso de Superman, os super-heróis conquistam o mundo e as revistas em quadrinhos entram em escala industrial de tiragens e criatividade, com o surgimento de dezenas de personagens. Com a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), os supercombatentes do crime adquirem conotação política enfrentando, além dos supervilões, as forças do Eixo do Mal. 

Mesmo em países sob a censura, como Itália e Espanha, os quadrinhos alcançam enorme popularidade. Esta era termina com o declínio dos super-heróis – com exceção de Batman e Superman-, o surgimento dos mangás no Japão do Pós-Guerra e instituição de um código de censura aos quadrinhos nos Estados Unidos.









ERA DE PRATA


Período: 1955-1970.


Astro Boy (1952), de Tezuka,
infelizmente continua inédito
no Brasil.

(Fonte: Wikipedia English)
Com o início da Guerra Fria e, por conseguinte, da era atômica, a ficção científica faz sucesso no período, provocando a estreia de novas produções e a reformulação das antigas. O mundo testemunha a estreia no Japão de Astro Boy (1952), do gênio Osamu Tezuka, faz viagens mirabolantes com O Eternauta (1957), dos argentinos Héctor Germán Oesterheld e Francisco Solano López e o Brasil corre na contramão do pudor com os catecismos eróticos de Carlos Zéfiro. Nos Estados Unidos, os super-heróis ganham um revival. Uniformizados como Flash (1955) e Lanterna Verde (1959) são reformulados e unidos a outros heróis na Liga da Justiça (1960). E Stan Lee, Jack Kirby e Steve Ditko geram para o mundo os “problemáticos” heróis da Marvel Comics: Quarteto Fantástico (1961), Hulk (1962), Thor (1962), Vingadores (1963) e Homem-Aranha (1962). A era se conclui com a mudança de Jack Kirby para a National Comics (DC Comics) em 1971.









ERA DE BRONZE


Período: 1970-1985.
Métal Hurlant nº 6 (1975)
com arte de Moebius.
A edição traz na capa o Major Grubert,
herói de A Garagem Hermética.
( Fonte: Li-An)

Nessa era quem ditam as regras são as celeumas sociais que afligem o mundo: Guerra do Vietnã, dependência química, racismo, privação de liberdades individuais, feminismo. Nos Estados Unidos, os quadrinhos foram se libertando aos poucos das amarras de seu código de censura, enfocando dilemas reais em histórias que destacaram personagens como Batman, Lanterna Verde e Homem-Aranha. Ao mesmo tempo, o mundo onde os civilizados é que são os vilões garantiu o sucesso do personagem pulp Conan, o Bárbaro (1971), publicado pela Marvel, enquanto Harvey Pekar e Robert Crumb sacudiam o meio underground com American Splendor (1976), Fritz The Cat (1965) e Mr. Natural (1967). No Japão, surge o shojo, mangá voltado especialmente para as meninas. 







Na França, Moebius, Jean-Pierre Dionnet e Philippe Druillet fundam a antologia de terror e ficção científica Métal Hurlant (1974), que daria origem três anos mais tarde à famosa revista estadunidense Heavy Metal. A era se conclui com a maxissérie Crise Nas Infinitas Terras, que reescreveu os 50 anos de cronologia da DC Comics.




ERA DE FERRO

Período: 1985-2001.



Sucesso independente, as Tartarugas Ninja
estrearam em 1984, inspiradas nas HQs
violentas e problemáticas de
Demolidor e Novos Mutantes.

(Fonte: MTV Geek)
Dizem que os anos 1980 foram a “década perdida”. Se assim o foram, como na música, eles renderam um bocado nos quadrinhos. Em tempos de Neoliberalismo e ditaduras desmoronando pelo planeta, as HQs se viram povoadas de personagens agressivos, amorais e até em certo ponto, egoístas. Nos Estados Unidos, a Invasão Britânica revitaliza o terror e a fantasia em séries da DC Comics que desembocariam no selo de quadrinhos adultos Vertigo (1993) e Frank Miller (Batman: O Cavaleiro das Trevas) e Howard Chaykin (Black Kiss, American Flagg) exploram a tensão política, a violência e o sexo. Em 1992, surge a Image Comics e os quadrinhos estadunidenses sofrem com a crise causada pela Bolha Especulativa, gerada especialmente pela exploração da arte em detrimento do texto. No Japão, sexo e pancadaria viram mania com os gêneros Yuri e Yaoi e os shonens Dragon Ball (1984) e Cavaleiros do Zodíaco (1986). Na Itália, a Druuna (1985) de Paolo Eleuteri Serpieri seduz a Velha Bota e no Brasil, Angeli, Laerte e Glauco são Los Três Amigos, reforçando a tradição humorística nacional. 






Em 2000, a Conrad Editora comanda a invasão oficial dos mangás no Brasil e a Era de Ferro chega ao fim, mas esta, ao contrário das outras, tem dia, mês e ano de seu desfecho: 11 de setembro de 2001.



ERA MODERNA


Período: 2001 até os dias atuais.
Imagem promocional
da saga
Fight Terror (2002)
do Capitão América. 

Arte de John Cassaday.
(Fonte: My Comic Shop

A tragédia dos atentados de 11 de setembro de 2001 em Nova York muda o enfoque dos quadrinhos, especialmente os de super-herói e fantasia. O Capitão América deixou de se esmurrar com o Caveira Vermelha para caçar a Al Qaeda, os X-Men vestiram preto e se revelaram ao mundo abertamente, Warren Ellis fez os milhares de agentes da Frequência Global (2002) caçarem terroristas, ditadores e executivos inescrupulosos, enquanto Bill Willingham trouxe as Fábulas (2002) para a Nova York real. Num efeito que lembra a Era de Ouro, saem os supervilões com colantes coloridos para entrarem os sisudos e mil vezes cruéis vilões da vida real, na pele de terroristas, ditadores, serial killers e o próprio crime organizado. O Brasil reaquece sua produção com diversas adaptações de clássicos da literatura e os quadrinistas nacionais Mike Deodato e Ivan Reis alcançam o estrelato no mainstream estadunidense. São diversos os temas e os conceitos criados a cada trabalho em diversos países e ainda não há um consenso sobre qual será a marca desta era que –por enquanto- é chamada de Era Moderna.






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