A
cena não é muito comum, mas factível. A mãe, toda dedicada a presentear o filho
fã de quadrinhos, adentra a comic shop em busca de um mimo inédito para o
rebento. No entanto, o choque é inevitável: ela passa os olhos totalmente
deslumbrada e assustada pela loja, pois nas prateleiras, não existem mais aquelas
revistinhas de bancas, mas publicações incrivelmente variadas: altas, baixas,
horizontais, verticais, finas, grossas, de bichinhos, de mocinhos, de vilões...
Nauseada, ela aceita a ajuda de um atendente que pergunta: “Mas qual é o
interesse dele? É charge, cartum, série regular, minissérie, maxissérie, graphic novel?”. A confusão está formada.
Tal
como qualquer forma de arte, as HQs apresentam um número extenso de formas de
se narrar uma história, de transmitir uma mensagem. Alguns desses formatos são mais
populares e foram base para a evolução dos quadrinhos, tais como a charge e a
tira. Já outros geram conflito: afinal, qual a diferença de uma minissérie pra
uma maxissérie? E um encadernado pra uma graphic
novel?
Hoje,
a seção Quadrinho a Quadrinho vai trazer um pouco das características
dos principais formatos dos quadrinhos: charge, cartum, tira, série regular,
minissérie, maxissérie, graphic novel e webcomic. É só ler e depois não tem
desculpa: se não ganhar o que pediu, pode reclamar!
CHARGE
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Charge de Izânio sobre a popularidade do governador do Piauí, Wilson Martins. (Fonte: CidadeVerde.com) |
As charges são desenhos
menos complexos, com tom geralmente político e de contexto o mais recente
possível. Elas assumem outros vieses (cultura ou esportes, por exemplo)
dependendo do veículo ao qual estão publicados. Além disso, a história contida
nesse formato deve ser contada no mínimo de quadros possíveis. São mais comuns
em revistas e jornais, e os balões de fala são facultativos.
CARTUM
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Cartum de Ivan Cabral. 18 de novembro de 2009. (Fonte: Sorriso Pensante) |
Possuindo as mesmas
características que a charge, mas com a diferença de não possuir obrigatoriedade
de estar atrelado com temas da atualidade, e também pelo fato de ser apenas um
quadro (também chamado de painel), temos o cartum.
TIRA
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Tira do dia 03 de abril de 2013 da série de tiras Malvados, de André Dahmer. (Fonte: Folha de São Paulo) |
Já a tira é um formato
bastante parecido com os dois acima citados, com a diferença de a história ser
contada sempre na horizontal, e no sentido ocidental de leitura (da esquerda
pra direita). Embora famosa pelos personagens humorísticos, gêneros como
aventura, mistério e espionagem já alcançaram o estrelato nesse formato. Pode
se apresentar tanto com periodicidade diária como dominical, com os quadrinhos
sendo em preto e branco e coloridos, respectivamente. Primeiro formato com as características
dos quadrinhos modernos, a tira foi consagrada nos jornais e continua até hoje
marcando presença, inclusive em revistas e na internet. Vários icônicos personagens
conquistaram o mundo com as tiras, desde os clássicos Dick Tracy e Flash Gordon
até os modernos Mafalda, Calvin e Haroldo e até o Homem-Aranha, que tem sua
tira de jornal editada até hoje.
SÉRIE REGULAR
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A série regular de Tex já passou dos 500 números no Brasil e o caubói é sucesso absoluto no país há mais de 40 anos. (Fonte: Planeta Gibi) |
Dentro desse formato,
existem duas vertentes: as quase extintas séries com histórias autocontidas, ou
seja, que mostram seu enredo iniciado e terminado numa mesma revista e as
séries que iniciam uma história em um número e que só a terminam algumas edições
depois, o que é denominado arco de histórias.
Muito colorida e detalhada,
a série regular foi o formato que disseminou o gênero super-herói. No Brasil, é
sinônimo de histórias em quadrinhos e se apresenta em duas denominações:
formato americano (17 x 26 cm) e o famoso formatinho (13,5 x 19 cm).
MINISSÉRIE
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Capa da edição nº 1 original de O Reino do Amanhã (1996), minissérie da DC Comics em 4 edições. (Fonte: DC Wikia) |
As minisséries são narrativas publicadas em série, mas com um número finito e reduzido de edições. Giram em torno de uma trama principal que é desdobrada em duas ou até oito partes.
Capa clássica da maxissérie Guerras Secretas (1984). A aventura completa durou um ano. (Fonte: Comic Book Movie) |
MAXISSÉRIE
Já as maxisséries, também
chamadas de macrosséries, apresentam as mesmas características das minisséries,
exceto pelo número de edições. Uma obra é classificada como maxissérie quando
sua publicação extrapola as oito partes.
GRAPHIC NOVEL
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Abordando anarquia, totalitarismo e distopia, V de Vingança foi uma das brilhantes graphic novels concebidas nos anos 1980. (Fonte: Hero Chan) |
Uma história em quadrinhos com temáticas mais profundas, reflexivas e com desenvolvimento mais detalhado é a matéria-prima das graphic novels, ou romances gráficos. Seja inédita – pensada como uma publicação desse naipe- ou compilação de uma minissérie ou maxissérie transformada em encadernado, as graphic novels são trabalhos que se destacam por apresentar uma estrutura mais elaborada. Geralmente, as graphic novels trazem problemáticas mais profundas e ousadas do que os quadrinhos tradicionais.
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Encadernado da Panini Comics trazendo as primeiras edições da série 100 Balas. (Fonte: O Grito!) |
O
encadernado, conhecido nos Estados Unidos como trade paperback, como o nome
diz, é uma publicação que compila histórias em quadrinhos, geralmente as que
fizeram parte de uma minissérie, macrossérie ou arco de histórias em série
regular. Na maioria das vezes, portanto, o encadernado é uma republicação em
formato especial, trazendo um enredo com início, meio e fim. Os encadernados de
origem franco-belga são comumente conhecidos como álbuns.
WEBCOMIC
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Protagonizada por uma visão bem-humorada de Deus, Um Sábado Qualquer é uma das webcomics mais bem- sucedidas da atualidade. (Fonte: Um Sábado Qualquer) |
Webcomic
foi a denominação dada para os quadrinhos produzidos especialmente para a veiculação
na internet. O conceito inclui tanto aquelas obras que são pensadas
exclusivamente para essa plataforma quanto para quadrinhos concebidos da
maneira tradicional que são digitalizados e disponibilizados na rede. Graças ao espaço democrático que a Web
representa, vários profissionais tem alcançado reconhecimento nesse formato.
STORYBOARD
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Storyboard feito pelo brasileiro Rodolfo Damaggio para o filme Capitão América: O Primeiro Vingador (2011). (Fonte: The Round Tablet) |
O
storyboard nada mais é do que uma
história em quadrinhos criada para organizar a montagem de cenas de um produto
audiovisual, como filmes e animações. Hoje em dia, é utilizada em larga escala
como uma ferramenta para dar noções sobre ritmo e eficácia da narrativa dessas produções.
Há casos inclusive em que filmes baseados em histórias em quadrinhos usaram a própria
publicação como storyboard.
Fonte
Fonte
- Graphic Novel em Almanaque dos Quadrinhos: 100 Anos de Uma Mídia Popular, Flávio Braga e Carlos Patati, Ediouro (2006);
- Webcomic em Webcomics are profane, explicit, humorous — and influencing trends, Steven Lacey;
- Trade Paperback em Wikipedia;
- Tirinha em Tirinhas: Compreendendo as Ideias;
- Storyboard em Wikipedia;
- Tempos Modernos: anos 1970 na DC Comics em Revista Mundo dos Super-Heróis nº 23, Editora Europa (2010);
- Comics, Cartum e Charge em Wikipedia.
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