domingo, 17 de março de 2013

Arte de mil e uma faces: os formatos das HQs

Por Valdemar Morais



A cena não é muito comum, mas factível. A mãe, toda dedicada a presentear o filho fã de quadrinhos, adentra a comic shop em busca de um mimo inédito para o rebento. No entanto, o choque é inevitável: ela passa os olhos totalmente deslumbrada e assustada pela loja, pois nas prateleiras, não existem mais aquelas revistinhas de bancas, mas publicações incrivelmente variadas: altas, baixas, horizontais, verticais, finas, grossas, de bichinhos, de mocinhos, de vilões... Nauseada, ela aceita a ajuda de um atendente que pergunta: “Mas qual é o interesse dele? É charge, cartum, série regular, minissérie, maxissérie, graphic novel?”. A confusão está formada.

Tal como qualquer forma de arte, as HQs apresentam um número extenso de formas de se narrar uma história, de transmitir uma mensagem. Alguns desses formatos são mais populares e foram base para a evolução dos quadrinhos, tais como a charge e a tira. Já outros geram conflito: afinal, qual a diferença de uma minissérie pra uma maxissérie? E um encadernado pra uma graphic novel?

Hoje, a seção Quadrinho a Quadrinho vai trazer um pouco das características dos principais formatos dos quadrinhos: charge, cartum, tira, série regular, minissérie, maxissérie, graphic novel e webcomic. É só ler e depois não tem desculpa: se não ganhar o que pediu, pode reclamar!




CHARGE

Charge de Izânio sobre a popularidade do governador
do Piauí, Wilson Martins.

(Fonte: CidadeVerde.com)

As charges são desenhos menos complexos, com tom geralmente político e de contexto o mais recente possível. Elas assumem outros vieses (cultura ou esportes, por exemplo) dependendo do veículo ao qual estão publicados. Além disso, a história contida nesse formato deve ser contada no mínimo de quadros possíveis. São mais comuns em revistas e jornais, e os balões de fala são facultativos.










CARTUM

Cartum de Ivan Cabral. 18 de novembro de 2009.
(Fonte: Sorriso Pensante)

Possuindo as mesmas características que a charge, mas com a diferença de não possuir obrigatoriedade de estar atrelado com temas da atualidade, e também pelo fato de ser apenas um quadro (também chamado de painel), temos o cartum.














TIRA


Tira do dia 03 de abril de 2013 da série de tiras Malvados, de André Dahmer.
(Fonte: Folha de São Paulo)


Já a tira é um formato bastante parecido com os dois acima citados, com a diferença de a história ser contada sempre na horizontal, e no sentido ocidental de leitura (da esquerda pra direita). Embora famosa pelos personagens humorísticos, gêneros como aventura, mistério e espionagem já alcançaram o estrelato nesse formato. Pode se apresentar tanto com periodicidade diária como dominical, com os quadrinhos sendo em preto e branco e coloridos, respectivamente. Primeiro formato com as características dos quadrinhos modernos, a tira foi consagrada nos jornais e continua até hoje marcando presença, inclusive em revistas e na internet. Vários icônicos personagens conquistaram o mundo com as tiras, desde os clássicos Dick Tracy e Flash Gordon até os modernos Mafalda, Calvin e Haroldo e até o Homem-Aranha, que tem sua tira de jornal editada até hoje.




SÉRIE REGULAR


A série regular de Tex já passou dos 500 números
no Brasil e o caubói é sucesso absoluto no país
há mais de 40 anos.

(Fonte: Planeta Gibi
Passando agora para as narrativas mais extensas, temos as séries regulares, que nada mais são, como o próprio nome já sugere, histórias que possuem uma regularidade e uma periodicidade fixas (semanal, quinzenal, mensal ou bimestral).

Dentro desse formato, existem duas vertentes: as quase extintas séries com histórias autocontidas, ou seja, que mostram seu enredo iniciado e terminado numa mesma revista e as séries que iniciam uma história em um número e que só a terminam algumas edições depois, o que é denominado arco de histórias.

Muito colorida e detalhada, a série regular foi o formato que disseminou o gênero super-herói. No Brasil, é sinônimo de histórias em quadrinhos e se apresenta em duas denominações: formato americano (17 x 26 cm) e o famoso formatinho (13,5 x 19 cm).







MINISSÉRIE



Capa da edição nº 1 original
de
O Reino do Amanhã (1996),
minissérie da DC Comics em 4 edições.

(Fonte: DC Wikia)






As minisséries são narrativas publicadas em série, mas com um número finito e reduzido de edições. Giram em torno de uma trama principal que é desdobrada em duas ou até oito partes.























Capa clássica da maxissérie
Guerras Secretas (1984). A aventura
completa durou um ano.

(Fonte: Comic Book Movie)
MAXISSÉRIE






Já as maxisséries, também chamadas de macrosséries, apresentam as mesmas características das minisséries, exceto pelo número de edições. Uma obra é classificada como maxissérie quando sua publicação extrapola as oito partes.

















GRAPHIC NOVEL


Abordando anarquia, totalitarismo e distopia,
V de Vingança foi uma das brilhantes
graphic novels concebidas nos anos 1980.

(Fonte: Hero Chan)



Uma história em quadrinhos com temáticas mais profundas, reflexivas e com desenvolvimento mais detalhado é a matéria-prima das graphic novels, ou romances gráficos. Seja inédita – pensada como uma publicação desse naipe- ou compilação de uma minissérie ou maxissérie transformada em encadernado, as graphic novels são trabalhos que se destacam por apresentar uma estrutura mais elaborada. Geralmente, as graphic novels trazem problemáticas mais profundas e ousadas do que os quadrinhos tradicionais.















Encadernado da Panini Comics trazendo
as primeiras edições da série
100 Balas.
(Fonte: O Grito!)
ENCADERNADO 


O encadernado, conhecido nos Estados Unidos como trade paperback, como o nome diz, é uma publicação que compila histórias em quadrinhos, geralmente as que fizeram parte de uma minissérie, macrossérie ou arco de histórias em série regular. Na maioria das vezes, portanto, o encadernado é uma republicação em formato especial, trazendo um enredo com início, meio e fim. Os encadernados de origem franco-belga são comumente conhecidos como álbuns.
















WEBCOMIC

Protagonizada por uma visão bem-humorada de Deus,
Um Sábado Qualquer é uma das webcomics mais bem-
sucedidas da atualidade.

(Fonte: Um Sábado Qualquer)



Webcomic foi a denominação dada para os quadrinhos produzidos especialmente para a veiculação na internet. O conceito inclui tanto aquelas obras que são pensadas exclusivamente para essa plataforma quanto para quadrinhos concebidos da maneira tradicional que são digitalizados e disponibilizados na rede.  Graças ao espaço democrático que a Web representa, vários profissionais tem alcançado reconhecimento nesse formato.




STORYBOARD

Storyboard feito pelo brasileiro Rodolfo Damaggio para o filme
Capitão América: O Primeiro Vingador (2011).
(Fonte: The Round Tablet)

O storyboard nada mais é do que uma história em quadrinhos criada para organizar a montagem de cenas de um produto audiovisual, como filmes e animações. Hoje em dia, é utilizada em larga escala como uma ferramenta para dar noções sobre ritmo e eficácia da narrativa dessas produções. Há casos inclusive em que filmes baseados em histórias em quadrinhos usaram a própria publicação como storyboard.


Fonte

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