Por Valdemar Morais
(Fonte: Acervo Pessoal) |
A força da imaginação não tem limites. Nem mesmo para o controle ferrenho dos editores de histórias em quadrinhos. Por muitos anos, sempre que tiveram ideias interessantes, mas editorialmente comprometedoras para os personagens- por exemplo, E se Lois Lane engravidasse do Superman? ou E se Superman e Batman fossem irmãos?-, os escritores, tanto na DC Comics como na Marvel Comics, exploraram o que se convencionou como “história imaginária”, na qual a aventura é publicada, mas torna-se apócrifa, ou seja, não é considerada na cronologia do personagem.
Em fevereiro de 1977,
a Marvel decidiu lucrar com esse tipo de exercício imaginativo e lançou a
revista bimestral What If?, que trazia
versões alternativas de eventos da editora, cuja conclusão quase sempre era
pessimista, justificando a razão pela qual as coisas tinham transcorrido de outra
maneira no “universo tradicional”.
Sempre
apresentadas pelo Vigia – no melhor estilo Rod Serling na série Além da Imaginação-, as tramas de What If? se desenrolavam em variados
estilos, desde um enfoque mais sério, como em O que aconteceria se o Homem-Aranha se juntasse ao Quarteto Fantástico?,
O que aconteceria se o Dr. Destino fosse um herói? ou O que aconteceria se o Capitão América tivesse sido eleito presidente dos Estados Unidos? até uma pegada mais nonsense como O que aconteceria se a equipe criativa da Marvel tivesse se tornado o Quarteto Fantástico?, e O que aconteceria se o Vigia fosse um comediante?
A série fez
sucesso e durou até 1984, teve uma segunda série (1989-1998) e alguns especiais
nos anos 2000. No
Brasil, a série estreou pela Editora Abril, que consagrou o título O que aconteceria se...? em 1981, com a
trama que confabulava sobre as repercussões no Universo Marvel caso o Capitão América não tivesse sido congelado no fim da Segunda Guerra Mundial.
Justamente no
segundo volume de What If?, mais
precisamente na sua quarta edição que foi lançada a história trazida a você por
Quadrinhos Clássicos, especialmente pela sua curiosa trama.
O famoso uniforme negro em sua estreia em Secret Wars nº 8 (1984) Arte de Mike Zeck. (Fonte: Spiderfan) |
Em O que aconteceria se o uniforme alienígena tivesse se apossado do Aranha?, o escritor Danny Fingeroth resgata o megavento Guerras Secretas, no qual o
Homem-Aranha, ao ter seu uniforme completamente destruído nas batalhas do
distante planeta de Beyonder, confecciona uma roupa escura a partir de um
material alienígena. Algum tempo depois, sentindo-se cada vez mais estafado, o herói
descobre, com a ajuda de Reed Richards – o Sr. Fantástico do Quarteto Fantástico-, que o traje é um simbionte que se alimenta de sua adrenalina.
Depois de atordoar o organismo - com uma arma sônica de Richards, Aranha consegue
se livrar da criatura com o badalar dos sinos de uma igreja. Posteriormente, ao
se unir ao jornalista fracassado Eddie Brock, o simbionte se tornaria o vilão Venom,
uma das maiores pedras no sapato do Homem-Aranha.
Na aventura
imaginária, o Aranha não consegue se livrar do simbionte, pois além de a arma sônica
do Sr. Fantástico falhar e até a magia do Dr. Estranho não surtir efeito, a
criatura se mostra mais esperta e chega a exaurir quase totalmente as forças do
herói, reduzindo o atlético Peter Parker a um frágil idoso. Em sua sanha louca
pela sobrevivência, o simbionte arrasta pelo caminho heróis como Hulk, Quarteto
Fantástico, Vingadores e até mesmo o flerte
do Aranha, a Gata Negra, que para vingar o homem que ama, terá de fazer
sociedade com gente nada recomendável...
Duplo momento dramático: o simbionte domina o Hulk e deixa para trás um Peter Parker moribundo. Arte de Mark Bagley. (Fonte: Symbiote) |
Um dos momentos
mais tocantes dessa HQ é quando Peter, já transformado pela voracidade do
simbionte, resolve visitar a Tia May, que obviamente não o reconhece e lhe
confessa a agonia sobre o desaparecimento de seu querido sobrinho. Ele – que se
apresenta como Harrison, um colega do Clarim Diário- nem tenta esclarecer as
coisas e se resume a enfatizar o enorme carinho que Peter sempre nutriu por
ela. De coração dilacerado, o outrora Homem-Aranha vai embora.
Enquanto a isso,
a situação só piora, com o simbionte passando por hospedeiros cada vez mais
poderosos, o que obriga a formação de uma colossal coalizão de heróis que se lançam
para detê-lo na conclusão.
O desfecho da trama não chega a ser apoteótico, mas se mostra no mínimo engenhoso. E, como não poderia fugir à regra, a última página deixa um saborzinho meio agridoce, potencializado pelo tom sempre tétrico dos discursos do Vigia.
O desfecho da trama não chega a ser apoteótico, mas se mostra no mínimo engenhoso. E, como não poderia fugir à regra, a última página deixa um saborzinho meio agridoce, potencializado pelo tom sempre tétrico dos discursos do Vigia.
Trama curta e de
leitura extremamente prazerosa, O que aconteceria se o uniforme alienígena tivesse se apossado do Aranha? conquistou a 48ª posição
como uma das 100 Melhores Histórias
Fechadas Desde Que Você Nasceu, um concurso produzido pela extinta revista
Wizard. Esse conto despretensioso foi ilustrado por Mark Bagley, quadrinista
elogiado e mais do que habituado a desenhar o Homem-Aranha- é detentor do recorde
de mais longeva parceria dos quadrinhos, pelas 111 edições de Ultimate Spider-Man com o escritor Brian Michael Bendis. Por aqui, a HQ saiu uma única vez pela Editora Abril, num número da
revista regular do Homem-Aranha facilmente encontrável em sebos.
O
HOMEM-ARANHA (1º SÉRIE) Nº 146
História: O que aconteceria se o uniforme alienígena tivesse se apossado do Aranha?
Ano
de Lançamento: 1995.
Editora:
Abril
Jovem/Marvel Comics.
Roteiro: Danny Fingeroth.
Desenhos: Mark Bagley.
Arte-final:
Keith
Williams.
Publicada
originalmente em: What If? nº 4 (1989).
Personagens:
Homem-Aranha.
22
páginas.
Fonte
- O Homem-Aranha (1ª série), Editora Abril, em Guia dos Quadrinhos;
- What If? (1977) e What If? (1989) em Comicvine;
- Marvel Super-Heroes Secret Wars em Comicvine;
- Mark Bagley em Wikipedia (English).