Por Valdemar Morais
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(Fonte: Blog Universo HQ) |
A partir de 1980, a DC Comics comandou uma evolução
das HQs de super-heróis nos Estados Unidos, especialmente no que tangia à
estética e à profundidade psicológica de suas artes e roteiros. Personagens
obscuros como Sandman e Monstro do Pântano ascenderam como popstars, protagonizando histórias cheias
de misticismo, terror e escatologia, fugindo da tradicional escola moralista
estadunidense.
A razão dessa mudança foi a chegada de
autores influenciados por movimentos culturais vanguardistas como o Punk, o New Wave e Gay, inspirados pelo rock e Shakespeare, pela Guerra Fria e os efeitos
do Neoliberalismo. Todos esses criadores eram vindos do Velho Mundo,
especialmente ingleses, escoceses e irlandeses, caracterizando a “escola”
chamada Invasão Britânica. Dentre os
expoentes desse movimento estiveram Alan Moore (Monstro do Pântano, Watchmen),
Neil Gaiman (Sandman, Orquídea Negra),
Grant Morrison (Homem-Animal, Patrulha do
Destino), Jamie Delano (Hellblazer) e Peter Milligan (Shade: O
Homem Mutável, Homem-Animal).
Essa pegada experimentalista se projetou para
os anos 1990, para além de personagens pouco populares e edições especiais, e
terminou por atingir os medalhões da DC, inclusive em seus próprios títulos
mensais. Peter Milligan, depois do sucesso de sua reformulação do personagem Shade e de sua curta, mas elogiada
temporada em Homem-Animal,
substituindo Grant Morrison, foi promovido a escritor regular de Batman em 1991
e elaborou a curiosa trama em quatro partes que deu origem a esta edição
especial Batman No Brasil.
O Idiota apresenta Batman e a Dama de Copas ao seu doentio mundo. Arte de Norm Breyfogle (Fonte: Comicvine) |
Na trama, Batman está perseguindo a serial
killer Dama de Copas, uma doida varrida que mata pessoas para colecionar seus
corações. O Morcego descobre uma pista de que ela está no Brasil,
especificamente no Rio de Janeiro e na pele do playboy Bruce Wayne, aporta na
Terra Brasilis. Só que chegando aqui o Maior Detetive do Mundo se depara com
meninos de rua que apresentam um estranho comportamento, lembrando zumbis e
enfrenta um perverso esquema que promove uma nova droga à base de uma raiz
indígena, tudo comandado pelo Idiota, um lunático que reina sobre uma realidade
bizarra gerada pela droga, o Mundo Idiota.
Na caçada ao Idiota, depois que este põe fim
à carreira da Dama de Copas, Batman acaba se aliando ao traficante de origem
indígena Zeno e o Delegado Freitas, que não gosta nada de ver o gringo
mascarado caçando bandidos na Cidade Maravilhosa. O Morcego acaba metendo-se na
mata seguindo o rastro do cultivo da raiz idiota e encontra o maligno Crosby, o
químico responsável pela droga e assecla do Idiota.
Batman atacado pelos trombadinhas. Arte de Jim Aparo. (Fonte: Blog Os Melhores do Mundo) |
Numa cena repetida muitas vezes pelos
detratores de Batman, o herói acaba subjugado por um bando de meninos dopados –
na verdade, o Cavaleiro das Trevas se deixou apanhar por não querer
machucá-los- e também prova da droga, indo parar no Mundo Idiota e confrontando
o Idiota pela primeira vez. Lá, ele descobre a origem do vilão e a chave para
sua inusitada derrota.
Batman
no Brasil não é propriamente um clássico. Embora Milligan poupe o
público brasileiro de ver “Bonillas”, “DaCostas” e “Rodriguez” no único país
não hispânico da América do Sul, falha mais que comum em muitos quadrinistas
estadunidenses que retratam o país, o autor escorrega na geografia quando
apresenta um templo indígena (?) no
interior do Rio de Janeiro.
A arte da
saga é dividida entre Norm Breyfogle e Jim Aparo. O primeiro foi o principal
artista regular de Batman entre 1987 e 1993 e se provou um dos mais talentosos
artistas a trabalhar com o Morcego. Sua arte é dinâmica, cheia de ação e vida.
Já Aparo (1932-2005), por sua vez, foi um veterano que trouxe elegância às
aventuras do herói por mais de 20 anos.
Batman segue as regras do alucinante Mundo Idiota para derrotar o vilão Cesar Lopes. Arte de Norm Breyfogle. (Fonte: Scans-Daily) |
No que tange à edição, a Editora Abril até
que fez um bom trabalho. Apesar do papel jornal, optaram por lançar a história
em formato americano com capa cartonada. Além disso, vale ressaltar com menção
honrosa a iniciativa de, não só publicar as capas originais (embora sem
referência), como também incluir minibiografias dos autores entrecortando as
histórias.
Batman
no Brasil é mais memorável pelo seu caráter curioso e exótico, de
ver um ícone estadunidense como Batman agindo em terras brasileiras, sendo
enfim um belo exercício de imaginação. Dividindo opiniões, essa HQ facilmente
encontrável em sebos é diversa até mesmo em seu desfecho: triste, seco, irônico
e nonsense.
BATMAN
NO BRASIL- Edição Especial
Histórias:
A Dama de Copas; Cai a Dama;
Na Zona Idiota e O Cozinheiro, o Morcego e o Idiota.
Ano
de Lançamento: 1993.
Editora:
Abril
Jovem/DC Comics.
Roteiro:
Peter
Milligan.
Desenhos:
Norm
Breyfogle e Jim Aparo.
Arte-final:
Norm
Breyfogle e Mike DeCarlo.
Cores: Adrienne Roy.
Tradução: Art & Comics.
Publicada
originalmente em: Batman
nº 472, Detective Comics nº 639, Batman nº 473 e Detective Comics nº 640 (1991).
Personagens:
Batman.
100
páginas.
Fonte
- Batman No Brasil em Guia dos Quadrinhos
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