segunda-feira, 4 de março de 2013

Batman No Brasil

Por Valdemar Morais




(Fonte: Blog Universo HQ)









A partir de 1980, a DC Comics comandou uma evolução das HQs de super-heróis nos Estados Unidos, especialmente no que tangia à estética e à profundidade psicológica de suas artes e roteiros. Personagens obscuros como Sandman e Monstro do Pântano ascenderam como popstars, protagonizando histórias cheias de misticismo, terror e escatologia, fugindo da tradicional escola moralista estadunidense.










A razão dessa mudança foi a chegada de autores influenciados por movimentos culturais vanguardistas como o Punk, o New Wave e Gay, inspirados pelo rock e Shakespeare, pela Guerra Fria e os efeitos do Neoliberalismo. Todos esses criadores eram vindos do Velho Mundo, especialmente ingleses, escoceses e irlandeses, caracterizando a “escola” chamada Invasão Britânica. Dentre os expoentes desse movimento estiveram Alan Moore (Monstro do Pântano, Watchmen), Neil Gaiman (Sandman, Orquídea Negra), Grant Morrison (Homem-Animal, Patrulha do Destino), Jamie Delano (Hellblazer) e Peter Milligan (Shade: O Homem Mutável, Homem-Animal).

Essa pegada experimentalista se projetou para os anos 1990, para além de personagens pouco populares e edições especiais, e terminou por atingir os medalhões da DC, inclusive em seus próprios títulos mensais. Peter Milligan, depois do sucesso de sua reformulação do personagem Shade e de sua curta, mas elogiada temporada em Homem-Animal, substituindo Grant Morrison, foi promovido a escritor regular de Batman em 1991 e elaborou a curiosa trama em quatro partes que deu origem a esta edição especial Batman No Brasil.


O Idiota apresenta Batman e a
Dama de Copas ao seu doentio mundo.
Arte de Norm Breyfogle

(Fonte: Comicvine)

Na trama, Batman está perseguindo a serial killer Dama de Copas, uma doida varrida que mata pessoas para colecionar seus corações. O Morcego descobre uma pista de que ela está no Brasil, especificamente no Rio de Janeiro e na pele do playboy Bruce Wayne, aporta na Terra Brasilis. Só que chegando aqui o Maior Detetive do Mundo se depara com meninos de rua que apresentam um estranho comportamento, lembrando zumbis e enfrenta um perverso esquema que promove uma nova droga à base de uma raiz indígena, tudo comandado pelo Idiota, um lunático que reina sobre uma realidade bizarra gerada pela droga, o Mundo Idiota.





Na caçada ao Idiota, depois que este põe fim à carreira da Dama de Copas, Batman acaba se aliando ao traficante de origem indígena Zeno e o Delegado Freitas, que não gosta nada de ver o gringo mascarado caçando bandidos na Cidade Maravilhosa. O Morcego acaba metendo-se na mata seguindo o rastro do cultivo da raiz idiota e encontra o maligno Crosby, o químico responsável pela droga e assecla do Idiota.


Batman atacado pelos trombadinhas.
Arte de Jim Aparo.

(Fonte: Blog Os Melhores do Mundo)

Numa cena repetida muitas vezes pelos detratores de Batman, o herói acaba subjugado por um bando de meninos dopados – na verdade, o Cavaleiro das Trevas se deixou apanhar por não querer machucá-los- e também prova da droga, indo parar no Mundo Idiota e confrontando o Idiota pela primeira vez. Lá, ele descobre a origem do vilão e a chave para sua inusitada derrota.

Batman no Brasil não é propriamente um clássico. Embora Milligan poupe o público brasileiro de ver “Bonillas”, “DaCostas” e “Rodriguez” no único país não hispânico da América do Sul, falha mais que comum em muitos quadrinistas estadunidenses que retratam o país, o autor escorrega na geografia quando apresenta um  templo indígena (?) no interior do Rio de Janeiro.  








A arte da saga é dividida entre Norm Breyfogle e Jim Aparo. O primeiro foi o principal artista regular de Batman entre 1987 e 1993 e se provou um dos mais talentosos artistas a trabalhar com o Morcego. Sua arte é dinâmica, cheia de ação e vida. Já Aparo (1932-2005), por sua vez, foi um veterano que trouxe elegância às aventuras do herói por mais de 20 anos.

Batman segue 
as regras do alucinante Mundo
Idiota para derrotar o vilão Cesar Lopes.
Arte de Norm Breyfogle.

(Fonte: Scans-Daily)


No que tange à edição, a Editora Abril até que fez um bom trabalho. Apesar do papel jornal, optaram por lançar a história em formato americano com capa cartonada. Além disso, vale ressaltar com menção honrosa a iniciativa de, não só publicar as capas originais (embora sem referência), como também incluir minibiografias dos autores entrecortando as histórias.

Batman no Brasil é mais memorável pelo seu caráter curioso e exótico, de ver um ícone estadunidense como Batman agindo em terras brasileiras, sendo enfim um belo exercício de imaginação. Dividindo opiniões, essa HQ facilmente encontrável em sebos é diversa até mesmo em seu desfecho: triste, seco, irônico e nonsense.


BATMAN NO BRASIL- Edição Especial
Histórias: A Dama de Copas; Cai a Dama; Na Zona Idiota e O Cozinheiro, o Morcego e o Idiota.
Ano de Lançamento: 1993.
Editora: Abril Jovem/DC Comics.
Roteiro: Peter Milligan.
Desenhos: Norm Breyfogle e Jim Aparo.
Arte-final: Norm Breyfogle e Mike DeCarlo.
Cores: Adrienne Roy.
Tradução: Art & Comics.
Personagens: Batman.
100 páginas.

Fonte



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